escritor poeta, radialista,

sábado, 3 de dezembro de 2016

CASO UBATUBA – PRAIA DAS TONINHAS (SP), 1957


Amostras do material recolhido do UFO Ubatuba, 1957, analisadas nos Estados Unidos por iniciativa da Aerial Phenomena Research Organization (APRO).

Por Pedro de Campos

O que vamos observar no Caso Ubatuba são apontamentos quase integrais do trabalho que o doutor Olavo Fontes realizou em língua inglesa e endereçou à Aerial Phenomena Research Organization (APRO), o mais conceituado grupo de pesquisa ufológica do mundo, fundado nos Estados Unidos pelo casal Jim e Coral Lorenzen, em janeiro de 1952. O meu trabalho neste caso foi apenas de zelo, tratou-se de reunir os principais informes e relacioná-los de modo ordenado, com a pretensão de facilitar a pesquisa e ajudar ao esclarecimento dessa intrigante incidência ufológica no Brasil.

Em particular, o caso me despertou atenção há tempos. Corria então o ano de 1961, quando um amigo de infância, o José Carlos Rodrigues, mostrou-me um pedaço de metal dizendo que seu pai, Arnaldo Rodrigues, recolhera anos antes de uma explosão de disco voador. A história dava conta que “o objeto espatifara em pedaços que foram recolhidos”. O José Carlos tinha então dois desses pedaços: um deles, de uns três centímetros, que ficou guardado com ele, e outro, um pouco menor, de uns dois centímetros, que me presenteou. Eu nada mais sabia sobre a incidência nem me interessei por ela, e o mesmo aconteceu com ele. A tal “pedra do disco”, como era chamada, ficou comigo até 1988, quando mudei de residência e, depois, não sei onde foi parar. O senhor Arnaldo, por sua vez, faleceu em 1974. Nos anos 90, quando passei a interessar-me por UFOs, fiquei sabendo do Caso Ubatuba. Por coincidência ou não, dava-se conta de que um disco voador espatifara-se em Ubatuba, em 1957. Isso me deixou intrigado sobre a “pedra” que José Carlos me dera nos idos de 61. Então, em anos recentes, voltei a falar com ele, mas não pude ter qualquer detalhe adicional do caso – ele não sabia o paradeiro de sua “pedra” nem se lembrou de algum detalhe que pudesse ajudar-me a entender melhor o caso, mesmo porque ele estava passando por grave momento de saúde familiar e não tinha cabeça para aprofundar o raciocínio. De todo modo, em razão de haver proximidade entre o ano da incidência (1957) e o da “pedra” presenteada (1961), bem como o informe de José Carlos dando conta de que a “pedra” era “um pedaço de disco voador que explodira”, pareceu-me apenas lógico haver sintonia entre os casos. Este o motivo do meu interesse sobre o Caso Ubatuba. 

Na época, sabe-se que a APRO congregava os mais brilhantes técnicos, cientistas e militares norte-americanos dispostos à pesquisa científica do fenômeno UFO. O doutor Fontes, em sua iniciativa, tinha por objetivo obter desse conceituado organismo um parecer cientificamente fundamentado sobre o intrigante material ufológico recolhido pela testemunha numa das praias do litoral norte do Estado de São Paulo. 

Não foram poucos os banhistas que no final de agosto ou início de setembro de 1957 avistaram um objeto desconhecido sobrevoar a Praia das Toninhas, em Ubatuba, perto de Caraguá. O relato dava conta de que um UFO descera em velocidade e quando prestes a chocar-se com a água, dera uma guinada súbita, voltando-se para cima. Nessa hora, algo de grave parecia ter ocorrido com o engenho, porque, ao fazer a manobra de subida, explodira em chamas e seus fragmentos caíram parte no mar e parte na beira da água, chamando a atenção dos banhistas. 

Atônitas, as testemunhas recolheram alguns fragmentos, constatando ser o material leve e de aparência metálica. Uma delas, que pescava no local junto com amigos, recolheu estilhaços e enviou três amostras por carta ao famoso colunista social de O Globo, Ibrahim Sued, no Rio de Janeiro, relatando a ocorrência. O jornalista publicou a matéria em 14 de setembro de 1957, com o título “Um Fragmento de Disco Voador”. Vamos observar o relato:

“RECEBEMOS: ’Prezado Sr. Ibrahim Sued. Leitor assíduo de sua coluna e seu admirador, quero proporcionar-lhe um verdadeiro furo jornalístico a respeito dos discos voadores [saucers flying – objeto voador em forma de pires], se é que acredita nos mesmos. Eu também não acreditava e somente lia, até que, alguns dias atrás, perto de Ubatuba, em pescaria com vários amigos, vi um disco-voador [flying disk]! Aproximou-se em incrível velocidade, parecendo prestes a abater-se sobre as águas, quando, a um impulso fantástico, elevou-se rapidamente. Atônitos, seguimos com os olhos esse espetáculo, quando vimos o disco explodir em chamas, caindo em milhares de pedaços que pareciam fogos de artifício – apesar de ser doze horas, ou seja, meio-dia –, com um brilho fortíssimo. Esses pedaços caíram quase todos no mar, mas muitos pequenos pedaços caíram perto da praia, tendo nós recolhido um bom número desse material, tão leve que parecia papel. Aqui junto uma pequena amostra desse material, que não sei a quem devo confiar para analisar. Nunca li que houvesse sido recolhido um disco-voador ou que se tivessem recolhido pedaços de um disco, a não ser que as autoridades militares o tenham feito e usado de sigilo. Estou certo de que este assunto bastante interessará ao brilhante cronista, e mando-lhe esta em duplicata, para o jornal e para a sua residência... Do admirador (assinatura ilegível)’, junto recebi detritos de um material estranho”. 

Ocorre que o doutor Olavo Fontes, filho do deputado Armando Fontes, formara-se gastroenterologista e era professor da Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Como ufólogo de expressão internacional, ao ler a notícia interessou-se pelo caso e contatou de imediato o jornalista que tinha as amostras. Ibrahim Sued, por sua vez, era especializado em assuntos e eventos da alta sociedade, colunista conhecidíssimo no Brasil e no exterior. Quatro horas depois do telefonema, ambos estavam reunidos no apartamento de Sued para discutir o caso. Por sobre a mesa, notavam-se as amostras enviadas pelo correspondente. 

Eram três pequenos pedaços de substância sólida, de cor cinza fosca, que pareciam algum tipo de metal. As superfícies não eram lisas e polidas, mas bastante irregulares e denotando forte oxidação. A aparência sugeria pedaços ou fragmentos desintegrados de uma massa metálica maior ou de algum objeto. Uma das amostras apresentava na superfície rachaduras quase microscópicas, sempre longitudinais, e numa das faces a grande fissura longitudinal atravessava quase dois terços do comprimento, como se tivesse sido interrompida sob a ação de uma força. Os outros pedaços mostravam rachaduras ou fissuras, mas todas as amostras estavam cobertas em áreas dispersas com um material esbranquiçado, manchas de fina camada de um pó branco. 

Esse pó, fino e seco, estava aderente à superfície, mas podia ser deslocado facilmente com a unha e, também, enchia as fissuras e fendas na superfície da primeira amostra. Tinha alguma semelhança com o pó de cinza esbranquiçado num pedaço de carvão queimado, como se os fragmentos fossem de um incêndio ou danificados pelo excesso de calor. Depois, duas dessas amostras foram fotografadas em sua forma original.

O jornalista disse a Fontes que à primeira vista lhe parecia metal, por causa da cor cinza, mas não poderia ser chumbo, metal pesado, e que Fontes teria a mesma impressão se sentisse o peso da amostra em suas mãos. De fato, ele estava certo. O material era leve, mais leve que o alumínio e quase tão leve quanto o papel. 

O doutor Fontes ficou maravilhado com o material. Disse ao jornalista que tinha alguns amigos com conhecimento científico e que podiam ser chamados para examinar as amostras. Sued, por sua vez, nada sabia sobre UFOs e estava convencido de que não existiam. Não era sua especialidade jornalística e não estava curioso sobre as amostras. Então disse ao ufólogo que poderia levá-las. É claro que ele gostaria de saber o resultado, se algo incomum fosse achado nas análises. Fontes lhe agradeceu, prometeu mantê-lo informado e levou as amostras.

Com sua experiência médica e acostumado a lidar com pessoas, o doutor Fontes notou alguns pontos positivos que lhe sugeriam prosseguir a investigação:

1º. O autor da carta parecia certo das próprias observações. O remetente tinha identificado equilibradamente o objeto e falado apenas o essencial. A experiência psicológica do médico indicava-lhe que as fraudes eram quase sempre marcadas pela descrição precisa dos detalhes e por sentimentos da testemunha, vindos do próprio intelecto. No entanto, no incidente relatado a história era simples, clara e concisa, tal como num caso verdadeiro, porque um fato ocorrido em poucos segundos não poderia ofertar detalhes. O incidente seria muito rápido, para a visão humana registrar detalhes do objeto, mas apenas algumas condições ocorrentes, como a trajetória do objeto e as coisas que foram expressas na carta;
 
2º. O homem que forneceu as amostras disse que o fenômeno também fora testemunhado por outros. Isso dava mais credibilidade aos relatos;
 
3º. A testemunha não aparentava render culto aos “discos voadores” nem aos chamados “irmãos do espaço”. Disse nunca ter lido nada de fragmento ou partes de “pires” que tivessem sido recolhidos ou de “pires voador” que tivesse sido encontrado. Um participante de culto teria outra linguagem, com expressões íntimas de crença, o que não era o caso;
 
4º. Talvez pudesse ser um fraudador, mas se fosse, seria sem qualidade. Porque um bom fraudador teria apresentado o caso em conferência de imprensa, para ganhar publicidade para si ou para alguma empresa. Não iniciaria com uma singela carta a um colunista social que, aparentemente, não estaria interessado no assunto. Acima de tudo, nunca iria enviar os “fragmentos” na primeira carta, antes de conhecer a atitude de Sued sobre os UFOs e sua disposição para contar a história e investigar;

5º. O observador identificou o objeto desconhecido como muita prudência, talvez certo de que o engenho extraterrestre pudesse revelar-se no estudo científico dos “fragmentos”;
 
6º. A testemunha não dava importância ou não estava ciente de que o primeiro homem a comprovar a realidade dos UFOs entraria para a história – se estivesse, não teria enviado as amostras. Tal comportamento pode ser entendido somente se o remetente fosse um fraudador ou se estivesse realmente confuso e não compreendesse a real importância de sua descoberta.

Estas razões explicam o interesse do doutor Fontes na obtenção do material e na investigação científica das amostras. A aparência metálica indicava que elas poderiam muito bem ser “fragmentos” provenientes da explosão de uma massa metálica ou objeto maior que tinha sido queimado ou chamuscado por algum tipo de fogo ou calor. Então o ufólogo decidiu recorrer à ajuda de químicos renomados. 

As peculiaridades do material e sua leve densidade constituíam verdadeiro quebra-cabeça que só a investigação científica poderia resolver. O doutor Fontes reteve as amostras durante sete dias, antes de decidir enviar o material para laboratório altamente qualificado, um dos melhores do Brasil na época.

As amostras, alegadamente originárias da “explosão” do UFO, foram entregues ao Laboratório de Produção Mineral, uma divisão do Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da Agricultura do Brasil. Na época, o laboratório era a instituição oficial brasileira para exame e análise das substâncias minerais, minérios metálicos, metais e ligas. As amostras tiveram registro de “origem desconhecida” e foram entregues pessoalmente ao doutor Pfeigell, chefe dos químicos daquela organização. 

O doutor Fontes foi apresentado a ele por um amigo, o doutor Júlio de Morais, e esperava que o famoso químico alemão fosse conduzir a investigação. No entanto, como ele estava fazendo estudos experimentais em química orgânica e pesquisas sobre plásticos, o químico não pode ensaiar pessoalmente, mas chamou um de seus assistentes, o doutor David Goldscheim, que fez um exame cuidadoso das amostras e sugeriu, pela aparência física, que poderiam ser fragmentos de origem meteórica. 

Mas Pfeigell se recusou a aceitar tal possibilidade. “São leves demais para serem fragmentos de um meteorito”, disse ele. “Parecem metálicos, feitos de metal leve, mas não é alumínio. Vamos fazer um teste químico...”, completou. Então um pequeno fragmento do material foi colocado num tubo de ensaio e o complexo exame teve início. 

A primeira conclusão veio rapidamente: era metal de algum tipo. Então se decidiu que uma análise de espectrografia deveria ser feita para a identificação do metal e para estabelecer a presença de outros constituintes possíveis. 

Com método espectrográfico altamente sensível, foi possível determinar a composição química do metal, usando apenas uma amostra não maior que a cabeça de um alfinete. Vestígios de elementos também podiam ser detectados, traças tão pequenas que não poderiam ser detectadas por quaisquer outros meios conhecidos. 

Um dos fragmentos do suposto “disco” (Amostra 1) foi previamente dividido em várias partes. Duas dessas partes metálicas, pesando aproximadamente 0,6 gramas cada, foram enviadas no mesmo dia para a Seção Espectrográfica do Laboratório de Produção Mineral e as outras devolvidas ao doutor Fontes, reservadas para outras análises, caso necessário. Os dois fragmentos restantes do “disco,” ainda em mãos do ufólogo, também foram separados para qualquer investigação futura e, posteriormente, foram fotografados. Infelizmente, nenhuma fotografia foi tirada da Amostra 1 em sua forma original, “uma verdadeira falha”,considerou Fontes.

A amostra maior (Amostra 2) mostrou claramente sua fissura longitudinal e pequenas fissuras descritas anteriormente. A menor (Amostra 3), que também apresentava pequenas fissuras, tinha uma seção transversal curva, particular. Sua forma irregular podia sugerir que viera de uma parte curva do casco, de um objeto esferoide ou dispositivo em forma de cúpula, mas tendo em conta o calor requerido para a oxidação, tal dedução podia não ser significativa. Ambas as amostras apresentavam superfície bastante irregular e fortemente oxidada. Sua cor cinza fosca contrastava com as áreas esbranquiçadas cobertas com o material em pó, já descrito. Presumiu-se que este material fosse óxido de metal nas amostras, possivelmente formado quando elas estavam à temperatura de ignição e expostas ao ar.

O ufólogo estava curioso sobre o resultado da análise espectrográfica. Ele sabia que a presença ou ausência no material desconhecido de qualquer dos elementos químicos existentes na Terra, seria revelado pelo espectrógrafo. Nenhum elemento poderia ser perdido na análise, mesmo que fosse uma milionésima parte do todo. Então foi planejado que o material deveria ser analisado com outros métodos, se necessário. Pensava-se em (1) análise espectrográfica semiquantitativa, (2) análise por difração de raios X e (3) padrão especial de análise com espectrógrafo de massa.

Primeiramente, as amostras foram submetidas à decifração por raios X, à medida de densidade e à pesquisa de radiação; os trabalhos foram realizados pelo professor Távola Filho e pelo doutor Augusto Batista, que registraram a densidade da amostra de 1,7 grs./cm³ a 20° C. O doutor Batista completou dizendo que “não há na natureza tal material em estado puro, mas exclusivamente na forma de vários compostos”. 

Os ensaios espectrográficos no Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da Agricultura tiveram a responsabilidade e a assinatura da química Luísa Maria A. Barbosa, que deu o seguinte laudo: 

“A análise espectrográfica revelou a presença de magnésio (Mg) em alta concentração e ausência de qualquer outro elemento metálico”. 

Outros exames feitos pelo químico Elson Teixeira, profissional do mesmo laboratório, a pedido do doutor Fontes, confirmaram o primeiro ensaio: 

“Magnésio absolutamente puro, mesmo sem os chamados elementos traças usualmente encontrados em qualquer metal; até mesmo as impurezas dos carvões usados com eletrodos, traços de manganês, ferro, silício, titânio que às vezes aparecem como contaminantes, não estavam presentes neste caso”. 

Como representante no Brasil da norte-americana Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos (APRO), o doutor Fontes acionou a presidente da instituição nos Estados Unidos e Coral Lorenzen, por sua vez, entregou os relatos e a amostra recebida para sua equipe de cientistas e técnicos especializados, para investigação do Caso Ubatuba. 

Então a APRO, a mais conceituada instituição de pesquisa ufológica do mundo, confirmou as análises brasileiras e considerou o metal altamente resistente, impossível de obter-se com as técnicas industriais da época. A alta concentração de magnésio na amostra e o testemunho de explosão em inúmeros estilhaços eram sugestivos de ser um engenho não produzido pelo homem, mas de origem não identificada – UFO. 


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