escritor poeta, radialista,

terça-feira, 14 de abril de 2015

Plutão à vista!

Após nove anos de viagem, a sonda New Horizons está chegando a Plutão. Realmente chegando. Veja esta imagem.
Imagem colorida de Plutão e Caronte obtida pela New Horizons em 9 de abril (Crédito: Nasa)
Imagem colorida de Plutão e Caronte obtida pela New Horizons em 9 de abril (Crédito: Nasa)
Divulgada nesta terça-feira (14) pela Nasa, a fotografia foi obtida no dia 9, enquanto a sonda viaja a uma velocidade inacreditável de cerca de 1 milhão de km por dia até a aproximação máxima, marcada para 20 de julho. No momento, a espaçonave está a cerca de 110 milhões de km de seu alvo — pouco menos que a distância entre o Sol e Vênus.
A imagem — a primeira colorida enviada pela sonda — revela Plutão, mais avermelhado, e a maior de suas luas, Caronte, bem menos brilhante. E, com isso, a empolgação começa a escalar, enquanto metade da população do mundo experimenta pela primeira vez a sensação de se aproximar de um mundo nunca antes explorado.
Diferentemente do que está acontecendo no planeta anão Ceres, onde a sonda Dawn entrou em órbita no mês passado, a visita a Plutão será apenas um sobrevoo — a nave passa zunindo por ali, fotografando tudo pelo caminho, e depois segue seu rumo, para fora do Sistema Solar.

AVENTURA DE UMA GERAÇÃO
A emoção e o entusiasmo remontam ao que aconteceu quando as sondas Voyager 1 e 2 fizeram um reconhecimento completo dos quatro planetas gigantes — Júpiter, Saturno, Urano e Netuno — entre 1979 e 1989.

Durante a entrevista coletiva desta terça, Jim Green, diretor de Ciência Planetária da Nasa, relembrou esse tempo. “Muitos de nós estávamos por aqui na época das Voyagers e foi muito empolgante. Aquela coisa de ciência instantânea a cada nova imagem, embora muitos cientistas se sentissem desconfortáveis com isso.”
É o que a New Horizons deve recapturar agora, com um mundo que fascina muita gente — Plutão. Você ainda se lembra de como foi com as Voyagers? Eu confesso que me lembro vagamente da passagem por Urano (1986, eu tinha sete anos) e só com clareza da visita a Netuno (1989), antes que a Voyager 2 avançasse na direção do grande vazio interestelar. Mas Alan Stern, cientista-chefe da missão New Horizons, destaca uma pesquisa que mostrou que cerca de 50% da população americana não se lembra disso, e possivelmente o mesmo se aplica à população global. “Não há nada como isso no mundo hoje. É sem precedentes em nossa época.”
E você, estava por aqui quando a Voyager visitou os planetas exteriores? Está ansioso pela chegada da New Horizons?
Uma diferença importante entre essa nova aventura e as que a antecederam, no cada vez mais longínquo século 20, é a evolução tecnológica. A New Horizons, lançada em 2006, é uma espaçonave moderna, com câmeras de alta resolução e alta capacidade de memória. As Voyagers eram máquinas dos anos 1970, com meio milésimo do poder computacional da primeira geração do iPhone, hoje já ultrapassado.
Então, a coleta de dados de Plutão e suas luas será extraordinária. Em compensação, as leis da física continuam as mesmas, e transmitir bits por distâncias de bilhões de quilômetros faz a gente ter saudade das conexões discadas à internet. Não acredita? A Nasa provavelmente entrará no Guiness Book com o download mais longo da história. Para baixar todas as informações colhidas durante a passagem por Plutão, serão necessários 16 meses! Após o sobrevoo, em julho, a sonda apontará sua antena para a Terra e seguirá transmitindo os dados gravados até outubro de 2016!
Ainda assim, a Nasa formulou um planejamento bacana para que recebamos diversos aperitivos de alta qualidade durante a chegada e logo após a aproximação máxima. Será uma daquelas experiências que definem uma geração!

Hubble detecta possível planeta em Alfa Centauri

O Telescópio Espacial Hubble pode ter detectado a presença de um planeta de porte similar ao da Terra no sistema estelar mais próximo de nós — Alfa Centauri. Se confirmada, a descoberta seria extraordinária. Mas os cientistas adotam cautela — como canja de galinha, ela nunca faz mal a ninguém. Tudo que temos no momento é a detecção de uma redução momentânea do brilho da estrela, como se um planeta tivesse passado à sua frente.
Concepção artística de planeta rochoso em torno de Alfa Centauri B (Crédito: ESO)
Concepção artística de planeta rochoso em torno de Alfa Centauri B (Crédito: ESO)


trabalho foi publicado no periódico “Monthly Notices of the Royal Astronomical Society” e tem como autores alguns dos pesquisadores mais respeitados no campo dos exoplanetas — dentre eles Didier Queloz, um dos descobridores do primeiro mundo a orbitar uma estrela similar ao Sol, em 1995. (Por falar nisso, é incrível pensar que nos últimos 20 anos fomos de zero descobertas a tudo que sabemos hoje. Vivemos numa época especial. Baita privilégio.)
Curiosamente, o grupo internacional estava procurando confirmar a presença de um outro planeta de tamanho similar ao da Terra que chegou a ser anunciado em 2012, mas até agora não convenceu completamente a comunidade científica, que o trata meramente como “candidato”. Não rolou. Nenhuma confirmação pôde ser obtida. Em compensação, eles podem ter atirado no que viram e acertado no que não viram — um outro planeta.

Confuso, né? Acredite, os cientistas também se sentem assim no que diz respeito a Alfa Centauri — que na verdade é um sistema com três estrelas. Alfa Centauri A e B são bem parecidas com o Sol — a primeira um pouquinho maior, a segunda um cadinho menor — e giram uma ao redor da outra a cada 80 anos, aproximadamente. Já a terceira estrela é uma anã vermelha, bem menor que o Sol, chamada Proxima Centauri. Ela orbita em torno das duas maiores a uma distância de cerca de 0,2 ano-luz. O sistema fica a aproximadamente 4,3 anos-luz do Sol.
Apesar de ser o sistema estelar mais próximo de nós, não é nada fácil encontrar planetas por lá. E veja você que os astrônomos têm tentado desde que primeiro desenvolvemos as tecnologias para procurá-los.

BUSCAS INDIRETAS
Tentar tirar fotos dos planetas, com os telescópios atuais, é impraticável, salvo em circunstâncias muito especiais. A luz da estrela é tão maior que a do planeta que é como tentar enxergar uma pulga num holofote visto a quilômetros de distância. Diante dessa dificuldade, os cientistas apelam para dois métodos indiretos. O mais antigo deles é o que envolve medir variações na assinatura de luz da estrela. Vamos entender isso.

Planetas girando em torno de estrelas, apesar de muito menores que elas, provocam efeitos gravitacionais no astro central. Conforme eles avançam em sua órbita, puxam a estrela para lá e para cá, causando nela uma espécie de bamboleio. Pouca coisa, deslocamentos da ordem de poucos metros ou centímetros por segundo. Mas esse zigue-zague sutil pode ser identificado no espectro da estrela, do mesmo jeito que conseguimos dizer se uma ambulância está se afastando ou se aproximando pelo tom da sirene — é o chamado efeito Doppler.
Para isso, os astrônomos usam espectrógrafos, instrumentos instalados em telescópios que conseguem medir precisamente essa variação. Precisamente naquelas — o limite da tecnologia atualmente é de cerca de meio metro por segundo.
Foi usando o melhor desses espectrógrafos dedicados a buscas de exoplanetas, o HARPS, do ESO (Observatório Europeu do Sul), que astrônomos do Observatório de Genebra — dentre eles alguns dos autores do atual trabalho — encontraram em Alfa Centauri B um “bamboleio” compatível com a presença de um planeta com apenas 10% mais massa que a Terra numa órbita extremamente curta, completando uma volta a cada 3,2 dias terrestres.
Desde então, diversos outros grupos têm tentado confirmar a descoberta com dados de outros espectrógrafos e novas análises dos espectros colhidos pelo HARPS. Ninguém chegou perto. E tudo ficou mais complicado desde o ano passado, conforme as órbitas de Alfa Centauri A e B as aproximaram uma da outra, com relação a observadores na Terra. Com a aproximação, ficou muito mais difícil colher a assinatura de luz de uma das estrelas sem contaminá-la com a assinatura da vizinha.
A órbita de Alfa Centauri B em torno de A e a posição aparente no céu, vista da Terra, ao longo dos últimos anos. (Crédito: Wikipedia Commons)
A órbita de Alfa Centauri B em torno de A e a posição aparente no céu, vista da Terra, ao longo dos últimos anos. (Crédito: Wikipedia Commons)
UMA ESTRATÉGIA DIFERENTE
E aí é que entra a técnica empregada agora pelos cientistas com o Telescópio Espacial Hubble. Ela não tenta encontrar planetas observando variações na luz relacionadas ao bamboleio estelar. Em vez disso, consiste em detectar reduções momentâneas no brilho da estrela conforme planetas passam à sua frente. É a mesma estratégia que foi aplicada com sucesso pelo satélite Kepler, da Nasa, para descobrir mais de mil planetas e outros 4.000 candidatos ainda aguardando confirmação.

Era um tiro no escuro, por uma razão muito simples — para detectar esses trânsitos planetários, o sistema precisa estar num alinhamento preciso com relação a nós. Os pesquisadores estimaram que a chance de termos essa sorte, no caso de Alfa Centauri B, era de 9,5%. Pequena, verdade, mas ainda assim valia a tentativa.
Apesar de ser ótimo para isso, não dá para usar o Hubble com o objetivo de procurar trânsitos a esmo, pois seria preciso mantê-lo apontado para a mesma estrela por muitos dias seguidos — e o tempo do telescópio é disputado a tapa pelos astrônomos. Contudo, no caso de Alfa Centauri B, tínhamos já um pista de um possível planeta, de forma que os pesquisadores só precisavam apontar o Hubble no momento em que um trânsito podia acontecer. Com isso, resolveram a parada em duas baterias de observação, em 2013 e 2014, que somaram cerca de 40 horas.
A primeira bateria de observações, em julho de 2013, pareceu detectar mesmo um trânsito — por 3,8 horas, Alfa Centauri B pareceu reduzir sutilmente seu brilho, como se um planeta estivesse passando à frente dela. Uau.
Para confirmar o achado, eles realizaram a segunda bateria de observações, em julho de 2014. E aí, veio a má notícia. Dessa segunda vez, nada de trânsito.
O suposto trânsito de 2013 já não era um bom encaixe para o procurado Alfa Centauri Bb (como é chamado o planeta-candidato com órbita de 3,2 dias), pois durava tempo demais. A única forma de compatibilizá-lo com as previsões seria supor que sua órbita é extremamente achatada. Mas isso não é muito convincente, pois estudos dinâmicos mostram que, em coisa de 100 milhões de anos, mesmo essa órbita acabaria praticamente circularizada. E Alfa Centauri tem entre 5 e 6 bilhões de anos (um pouco mais velho que o nosso Sol, com 4,6 bilhões de anos), de forma que esse planeta já devia estar numa órbita praticamente circular há muito tempo.
Mas tudo piorou com os dados de 2014, que não contêm um trânsito. Aí não tem jeito. Agora eles sabem que, se o tal planeta existe mesmo, ele não transita à frente da estrela, com 96,6% de certeza. Não quer dizer que ele não exista, apenas que sua órbita não está alinhada da forma que gostaríamos.
Comparação de tamanho entre o Sol (à esquerda) e o trio de Alfa Centauri, A, B e Proxima (Crédito: Wikipedia Commons)
Comparação de tamanho entre o Sol (à esquerda) e o trio de Alfa Centauri, A, B e Proxima (Crédito: Wikipedia Commons)
SERÁ QUE ELE É?
Contudo, isso ainda nos deixa com o trânsito de 3,8 horas detectado em julho de 2013. O que ele poderia ser? O grupo buscou explorar alternativas, como manchas estelares, efeitos introduzidos pela instrumentação ou mesmo a passagem fortuita de uma estrela menos brilhante ao fundo, gerando um falso positivo para trânsito planetário. Nada disso se encaixa.

Resumo da ópera: talvez o trânsito reflita mesmo a existência de um planeta em torno de Alfa Centauri, embora não o anunciado em 2012. Baseados nos dados colhidos pelo Hubble, os pesquisadores estimam que ele tenha tamanho similar ao da Terra e leve no máximo 20,4 dias terrestres para dar uma volta em torno da estrela, embora o período orbital mais provável esteja em torno de 12 dias. (Em todo caso, ele seria quente demais para abrigar água em estado líquido e vida como a conhecemos.)
O duro é que não é viável manter o Hubble três semanas seguidas apontado para Alfa Centauri B em busca da repetição do trânsito — é tempo demais para o telescópio mais disputado pela comunidade astronômica. E tentar fazer a detecção com equipamento mais modesto anda extremamente complicado por esses dias, até pelo fato de Alfa Centauri A e B estarem muito perto uma da outra, diluindo ainda mais o sinal do trânsito.
Por outro lado, um planeta com esse porte numa órbita desse tipo produziria um bamboleio estelar de cerca de 30 centímetros por segundo — além da precisão dos atuais espectrógrafos.
Ou seja, não espere para tão já a confirmação desse possível planeta. De toda forma, seria uma sorte incrível se encontrássemos planetas que fazem trânsitos logo no sistema estelar mais próximo, pois esses serão os mundos que terão sua atmosfera sondada pelo Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, a partir de 2018.
Estudos teóricos de Alfa Centauri mostram que existem órbitas estáveis para planetas rochosos na zona habitável tanto da estrela A como da B. Sabemos que ambas não possuem planetas gigantes gasosos — que dariam pistas muito mais claras de sua presença em medições de bamboleio estelar –, mas nada impediria a existência de mundos como o nosso ao redor dela.
A descoberta de planetas em Alfa Centauri seria o maior motivador em que consigo pensar para que programas espaciais do mundo todo começassem a buscar tecnologias de propulsão capazes de vencer o imenso abismo entre nós e as estrelas mais próximas.
Não é à toa que tem tanto astrônomo olhando para lá e procurando. E o melhor de tudo: agora que sabemos que praticamente todas as estrelas — inclusive aquelas em sistemas múltiplos — têm planetas, achar alguma coisa lá é só uma questão de tempo. Fique de olho.

Asteroide 2012 TC4 retorna e se aproxima perigosamente da Terra

Em outubro de 2012 o asteroide 2012 TC4 passou a apenas 94 mil km do nosso planeta, acima do cinturão de satélites geoestacionários. Agora, o objeto está de volta e deverá passar muito mais perto, mas as incertezas são bem grandes.


Orbita do asteroide 2012 TC4



As últimas análises mostram que 2012 TC4 passará novamente nas proximidades da Terra em 12 de outubro de 2017 e deverá chegar a apenas 14 mil km de distância, o equivalente à metade da altitude onde ficam os satélites meteorológicos e de comunicação.
2012 TC4 foi descoberto em 4 de outubro de 2012 através de imagens feitas pelo telescópio Panstarrs, no Havaí. Na ocasião, o objeto recebeu a denominação provisória P104imJ e teve seu tamanho estimado em aproximadamente 30 metros.
A rocha completa uma volta ao redor do Sol (período orbital) a cada 532 dias e no momento da máxima aproximação passará pela Terra a uma velocidade relativa de 23500 km/h. De acordo com o JPL, Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, o momento do rasante será as 03h29 UTC, ou 00h29 BRT (Horário de Brasília).
Para Györgyey-Ries, cientista ligada ao programa de observações de asteroides da Nasa, ainda pairam algumas incertezas sobre a orbita de 2012 TC4, mas elas só devem afetar a avaliação do instante da maior aproximação. "Apesar das dúvidas, os cálculos mostram que não há risco de choque, embora sejam necessárias mais observações para reduzir as incertezas", explicou a pesquisadora.
Makoto Yoshikawa, da Agência Espacial Japonesa, concorda com sua colega estadunidense e se diz convencido que o asteroide não representa perigo. “Concordo que a distancia seja muito pequena, mas isso não significa que vai haver colisão".

Asteroide Apollo
2012 TC4 é um asteroide do grupo Apollo, que cruza a órbita da terra de modo similar ao objeto 1862 Apollo, com eixo semi-maior superior a 1 UA (Unidade Astronômica) e com periélio inferior a 1.017 UA. Lembrando que 1 Unidade Astronômica equivale a 149,5 milhões de quilômetros, a distância média da Terra ao Sol.
Uma reanálise da orbita mostra que 2012 TC4 passou sorrateiramente pelas vizinhanças da Terra em 10 de fevereiro de 2010, sem que fosse observado. Na ocasião, a rocha passou a 0.24 UA, cerca de 35 milhões de quilômetros.
A Lua também está na mira do asteroide na passagem de 12 de outubro de 2017. Estima-se que a rocha passará pelas vizinhanças do nosso satélite as 09h11 BRT, algumas horas depois de raspar a atmosfera da Terra.
Se atingisse a Terra, os efeitos provocados seriam similares aos do impacto de Chelyabinsk, que atingiu a Rússia em fevereiro de 2013.