escritor poeta, radialista,

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Novo estudo revela que a Terra não precisa da Lua

Até agora, a presença da Lua tem sido vista como crucial na criação e manutenção de um ambiente adequado para a evolução da vida na Terra. No entanto, um novo estudo revela que nosso planeta não depende tanto da Lua quanto se pensava.

Lua

Em 1993, o astrônomo francês Jacques Laskar publicou uma série de cálculos que indicam que a gravidade da Lua é vital para estabilizar a inclinação do nosso planeta. Para ele, a obliquidade da Terra, como essa inclinação é tecnicamente conhecida, teria enorme influência no clima, pois faria a Terra "bambolear" ao longo de centenas de milhares de anos, produzindo um clima extremamente variável para o desenvolvimento de vida complexa.
Em seus trabalhos, Laskar afirmava que deveríamos nos sentir com muita sorte por ter uma lua tão grande à nossa volta, já que sua presença age com uma espécie de estabilizador, fixando o eixo de inclinação da Terra e consequentemente impedindo seu bamboleio caótico.
Marte tem dois satélites naturais, Phobos e Deimos, mas são tão pequenos que não conseguem estabilizar o planeta. Assim, a inclinação de Marte oscila caoticamente em escalas de tempo de milhões de anos, com variações que podem chegar a 45 graus.

Formacao da Lua

Desta forma, a hipotética colisão entre a Terra e um protoplaneta do tamanho de Marte, ocorrida há mais de 4.5 bilhões de anos pode ser considerada como um verdadeiro golpe de sorte, pois sem ela não teríamos nossa Lua estabilizadora.

Novos Estudos
Tudo parecia bem com a hipótese de Laskar até que um novo e surpreendente estudo foi divulgado.

Em 2011, o trio de cientistas Jack Lissauer, do Ames Research Center, da Nasa, Jason Barnes, da Universidade de Idaho e John Chambers da Instituição Carnegie fizeram novas simulações e descobriram que a obliquidade da Terra seria a praticamente a mesma sem a presença da Lua.
"Nós estávamos simulando como a obliquidade pode variar para todos os tipos de sistemas planetários e para testar nosso código começamos com integrações na obliquidade de Marte e encontramos resultados semelhantes a outros estudos", disse Lissauer. "No entanto, quando fizemos cálculos com a obliquidade da Terra encontramos variações muito menores do que o esperado, longe de serem tão extremas como os cálculos anteriores sugeriam".
A equipe de Lissauer descobriu que sem a Lua, o eixo de rotação da Terra só iria oscilar em 10 graus a mais do que o ângulo atual de 23,5 graus.
Para a equipe, a razão para tais resultados muito diferentes dos alcançados por Jacques Laskar é simplesmente o atual poder de computação. De acordo com Lissauer, os supercomputadores de hoje são muito mais rápidos e capazes de modelagem muito mais precisa do que os computadores da década de 1990.
Além da diferença na variação do ângulo de inclinação, Lissauer e seus colegas também descobriram que se a Terra estivesse girando mais rápido, com um dia de duração inferior a 10 horas, ou retrógrada de rotação (ou seja, para trás, de modo que o sol nascesse no oeste), a Terra se estabilizaria graças às ressonâncias gravitacionais com outros planetas, mais notavelmente com gigante Júpiter e não haveria necessidade alguma de uma grande lua.
O resultado das descobertas de Lissauer é que a presença de uma lua não é fundamental e um planeta terrestre pode existir sem uma grande lua e ainda assim manter a sua habitabilidade.
"Acho que é um estudo muito bem feito", disse Rory Barnes, ligado à Universidade de Washington e que também estuda o problema da obliquidade dos planetas. "O estudo mostra que a Terra não precisa de uma Lua para ter um clima relativamente estável. Eu não acho que haveria quaisquer consequências terríveis se não tivéssemos uma".
Além da obliquidade, a Lua tem contribuição em outros fatores importantes para a vida, como por exemplo, a formação de piscinas de maré, que podem ter sido o ponto de origem da vida na Terra. No entanto, o Sol também influencia as marés, por isso a falta de uma grande lua não é necessariamente um obstáculo.
Alguns animais também evoluíram com base no ciclo da Lua, mas isso é, segundo Lissauer, mais isso parece mais um acaso do que um componente essencial para a vida.

Vão-se as luas, ficam os aneis...

POR SALVADOR NOGUEIRA

O Universo não é só mais estranho e belo do que imaginamos, mas do que conseguimos imaginar. É a única conclusão possível ao ler sobre o novo trabalho de uma dupla de astrônomos do Observatório de Leiden, na Holanda, e da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Eles estão estudando um sistema de anéis fora do Sistema Solar que deixa o do nosso glorioso Saturno no chinelo. Para que se tenha ideia do diâmetro do negócio, ele é um pouco maior do que a distância entre a Terra e o Sol.
Concepção artística dos incríveis anéis descobertos ao cruzar à frente da estrela J1407 (Crédito: Ron Miller/Divulgação)
O incrível sistema de anéis descoberto ao cruzar à frente da estrela J1407 (Crédito: Ron Miller/Divulgação)
A descoberta em si foi feita em 2012, por um dos autores do novo trabalho, Eric Mamajek, da Universidade de Rochester. Ele analisava o brilho de uma estrela monitorada pelo projeto SuperWASP, que tem por objetivo descobrir planetas como Júpiter ou Saturno — gigantes gasosos — cruzando à frente de suas estrelas. O trânsito funciona como um minieclipse, reduzindo momentaneamente o brilho do astro central. Mas não foi exatamente isso que a coleta de dados do projeto registrou entre abril e maio de 2007 na estrela 1SWASP J140747.93-394542.6 (não tente decorar esse nome; até mesmo os cientistas usam apenas J1407 após a primeira menção).
O que eles viram foi uma série sequencial de eclipses profundos que durou um total de 56 dias. Nenhum planeta poderia produzir um efeito como esse. Mas uma análise cuidadosa mostraria que esse seria exatamente o resultado observável se um vasto sistema de anéis cruzasse à frente da estrela.
O novo trabalho, aceito para publicação no “Astrophysical Journal”, faz uma modelagem detalhada de como seria esse sistema. Ele teria nada menos que 37 anéis, com um diâmetro total de cerca de 180 milhões de quilômetros, umas 200 vezes maior que o sistema de Saturno. Um jeito bacana de visualizar o tamanho disso é imaginar como o nosso “Senhor dos Anéis” seria visto da Terra, a olho nu, se tivesse todas essas joias. E aqui está o resultado.
Se Saturno tivesse anéis assim, veríamos isso em Leiden, na Holanda (Crédito: Matthew Kenworthy/Divulgação)
Se Saturno tivesse anéis assim, veríamos isso em Leiden, na Holanda (Crédito: Matthew Kenworthy/Divulgação)
O que dizer do astro central desse sistema de anéis? Esse é um problema bem mais difícil, porque esse objeto em si não passou à frente de sua estrela. Mamajek e seu colega Matthew Kenworthy, do Observatório de Leiden, fizeram o máximo possível para tentar estimar a massa dele, mas a única coisa que se pode afirmar é que ele deve ser ou um planeta gigante ou uma anã marrom (objeto de porte intermediário entre estrelas e planetas).
AS INCERTEZAS
O mais provável é que esse mundo, batizado de J1407b, esteja numa órbita elíptica bem achatada em torno de sua estrela-mãe, em si muito parecida com o nosso Sol, mas bem mais jovem que ele (16 milhões de anos, contra 4,6 bilhões de anos). Se isso estiver certo, ele completa uma volta em torno da estrela num período mínimo de 10 anos (e o mais provável, segundo os pesquisadores, seria 13,3 anos).

Contudo, como somente uma passagem foi observada, há ainda muita incerteza sobre isso. Existe até mesmo a possibilidade — muito pequena, é verdade — de que o trânsito tenha sido apenas uma curiosa coincidência, e o mundo dos anéis gigantes nem esteja de fato em órbita de J1407.
O único meio de testar é esperar o próximo trânsito. Como o primeiro aconteceu em 2007, e a órbita mínima seria de dez anos, podemos começar a esperar por ele a partir de 2017. (Pelo sim, pelo não, o monitoramento já começou.)
A única certeza até agora é a de que o sistema de anéis gigantesco existe mesmo, nesse estranho objeto localizado a 433 anos-luz de distância. E, a exemplo do que acontece nos anéis de Saturno, há um “vão” maior, que os cientistas atribuem à formação de uma lua quase do tamanho da nossa Terra. Ela completaria uma volta em torno de J1407b a cada dois anos terrestres.
Os pesquisadores acreditam que esses anéis gigantescos sejam temporários, parte do processo que leva ao surgimento de luas em torno de planetas gigantes. É bem possível que os mundos gasosos do nosso Sistema Solar também tenham tido essas estruturas no passado remoto. Hoje, 4,6 bilhões de anos depois, sabemos que Júpiter, Saturno, Urano e Netuno têm anéis. Mas o único sistema realmente notável é o saturnino.
Tão incríveis quanto as maravilhas do Universo são os esforços detetivescos dos astrônomos para decifrá-los, observando de um pequeno e obscuro canto de uma galáxia espiral comum, em meio à inimaginável vastidão do cosmos.