A dicotomia PT-PSDB prossegue central na vida política brasileira. Esta continuidade foi uma escolha do eleitor. Se por falta de opção ou não, se pela inexistência ou não de atores políticos que expressem a desejada mudança, esta foi encarnada em 2014 nas figuras de Dilma e Aécio. O desfecho veremos daqui vinte dias na votação do segundo turno.
Quatro horas depois de encerradas as urnas e já anunciados os resultados do primeiro turno, entre 21:20 e 22:14 do domingo (5), Dilma, Aécio e Marina foram ao vivo à TV para agradecer a seus eleitores e, nas entrelinhas, darem o tom inicial do curto segundo turno. Em Brasília, tendo ao fundo um painel com o slogan “Governo novo, idéias novas”, Dilma foi a última a aparecer na TV, às 21:56 (àquela altura já tinham dado as caras Marina em São Paulo e Aécio em Belo Horizonte, este último em breve pronunciamento seguido de entrevistas).
Em sua mensagem, entremeada pelo coro da platéia de “o povo unido jamais será vencido”, Dilma deu o tom (já previsível) da nova fase da disputa eleitoral. Lembrou os “fantasmas” do passado, o desemprego, as altas taxas de juros, falou no “fundamento moral” de seu governo, que são a “igualdade” e o “combate à corrupção”, pontuando que o PSDB não governou para todo o Brasil mas “para um terço da população”. Recuperou com sua voz rouca, enfim, o discurso das conquistas sociais x forças liberais, agradecendo a movimentos sociais e centrais sindicais pelo empenho até ali.
Já Aécio – a surpresa do primeiro turno, pois sua votação foi bem mais expressiva do que apontavam as pesquisas – falou na TV, ao lado de sua esposa Letícia Weber, em um governo que possa aliar “eficiência” a “decência”; reverenciou o “amigo” Eduardo Campos, a quem se une neste momento por meio de seus “sonhos” e “ideais”. Mirou diretamente nos eleitores de Marina: sua candidatura não é mais a de “um partido político” mas a da encarnação de um “sentimento” de mudança.
Os movimentos imediatos de Dilma e Aécio indicam que a já conhecida polarização PT X PSDB será retomada com roupagens novas. O PT provavelmente terá que reciclar a mera comparação de governos (os do PSDB já vão muito distantes, por um lado, e por outro, a realidade econômica do país já não é a mesma de 2010 – os desafios são bem maiores e mais complexos, trata-se fundamentalmente de fazer a economia voltar a crescer). Já os tucanos possivelmente terão que demonstrar o que querem além de “arrumar a casa” (se explicitarem os significados da palavra “ajuste”, melhor). Demonstrar, afinal, o que pretendem fazer para que a vida das pessoas, principalmente as de menor renda, volte a melhorar – a inserção limitada no eleitorado de menor renda continua a ser um desafio tucano para as próximas (breves) semanas.
O que farão os eleitores de Marina? Em sua primeira fala, a candidata cultivou o enigma. Rodeada por correligionários em São Paulo, no mesmo cenário de seus programas de TV, Marina fez um pronunciamento e disse o que já era esperado: sobre o futuro imediato (ou seja se e quem ela apoiará no segundo turno) será necessário esperar. Se fizer o mesmo que em 2010, não anunciára o apoio a ninguém. Não é absurdo imaginar que para seu futuro político, ou para preservar em um baú de prata a idéia de uma “nova política”, o melhor será a neutralidade (mas nunca se sabe).