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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Sinais de supercivilizações?

Um estudo recém-concluído por pesquisadores americanos identificou 50 galáxias que podem conter sinais de uma supercivilização atuando nelas. Contudo, os resultados preliminares não são conclusivos, e é bem possível que as anomalias encontradas sejam meramente fruto de algum processo natural.
Imagem infravermelha feita pelo satélite Wise de Andrômeda, uma das 100 mil galáxias estudadas. (Crédito: Nasa)
Imagem infravermelha feita pelo Wise de Andrômeda, uma das 100 mil galáxias do estudo. (Crédito: Nasa)
O trabalho faz parte da pesquisa G-HAT, sigla para Glimpsing Heat from Alien Technologies, ou Detectando Calor de Tecnologias Alienígenas, e será publicado na edição de 15 de abril do “Astrophysical Journal Supplement Series”. Ou seja, é pesquisa séria mesmo, não coisa de maluco.
O estudo foi conduzido com base nos dados do satélite Wise, da Nasa, que fez uma varredura completa do céu em infravermelho, e por ora o resultado é que nenhuma evidência óbvia de uma supercivilização foi encontrada, após uma análise da luz de cerca de 100 mil galáxias.
“A ideia por trás da nossa pesquisa é que, se uma galáxia inteira tivesse sido colonizada por uma civilização espacial avançada, a energia produzida pelas tecnologias daquela civilização seria detectável em comprimentos de onda do infravermelho médio — exatamente a radiação que o satélite Wise foi projetado para detectar, para outros propósitos astronômicos”, disse, em nota, Jason Wright, astrônomo da Universidade Estadual da Pensilvânia e criador do projeto.

BUSCA INCOMUM
Talvez pareça estranho procurar sinais de inteligência extraterrestre desse modo, em vez de seguir a linha mais tradicional da pesquisa SETI, que tenta ouvir sinais de rádio de civilizações próximas habitando sistemas planetários em nossa própria galáxia, a Via Láctea. Mas é uma linha de pesquisa sugerida há décadas. Em 1964, o astrofísico russo Nikolai Kardashev propôs que civilizações avançadas pudessem ser classificadas de acordo com seu nível de consumo de energia. As de tipo I seriam aquelas que usufruem do equivalente energético da radiação que chega a seu planeta emanada de seu sol. As de tipo II teriam à sua disposição a energia equivalente à produção toal de sua estrela. Finalmente, as de tipo III teriam energia compatível com a produção em escala galáctica.

O G-HAT buscou exatamente essas poderosas supercivilizações de tipo III. A premissa é que a produção de calor combinada das máquinas operadas por essa sociedade e espalhadas por uma galáxia inteira pudessem aparecer como uma anomalia da emissão de infravermelho médio. O grupo começou com 100 milhões de objetos catalogados pelo Wise e então restringiu a análise às 100 mil galáxias que tinham imagens com qualidade suficiente para uma possível detecção.
“Encontramos cerca de 50 galáxias que têm níveis incomumente altos de radiação no infravermelho médio”, afirma Wright. “Nossos estudos subsequentes dessas galáxias poderão revelar se a origem dos resultados vem de processos astronômicos naturais ou se poderiam indicar a presença de uma civilização altamente avançada.”
De toda forma, já está claro que uma supercivilização que use a maior parte da energia produzida pela galáxia (85% ou mais) para seus próprios fins não habita nenhuma das 100 mil estudadas. “Isso é interessante porque essas galáxias têm bilhões de anos, o que é tempo mais que suficiente para que elas ficassem cheias de civilizações alienígenas, caso elas existam”, diz Wright. “Então, ou elas não existem ou não usam energia suficiente para que nós as reconheçamos.”
O objetivo agora é refinar as técnicas de medição para investigar se as 50 galáxias com anomalias no infravermelho médio podem ser resultado de civilizações poderosas para os nossos padrões, mas que ainda não chegaram ao tipo III. A propósito, usando a escala de Kardashev, a humanidade não chegou nem ao tipo I ainda. (Segundo Carl Sagan, seríamos do tipo 0,7, ou algo assim.)

O QUE ISSO QUER DIZER?
Diante da ausência de sinais claros, há quem possa tomar uma rota pessimista e imaginar que supercivilizações não existem porque se auto-destroem antes de chegar nesse estágio. É uma resposta possível. Ele vem de uma época em que só se pensava em aumentar o consumo e a oferta de energia, numa escalada incontornável. Hoje a tal civilização 0,7, portanto modesta em termos de dispêndio energético, discute com afinco o conceito de desenvolvimento sustentável, que se resume basicamente a fazer mais com menos.

Claro que a expansão de uma civilização pela galáxia, ainda que ela seja fã desse conceito, exigirá níveis consideráveis de energia — como dizia Scotty, “você não pode mudar as leis da física, capitão!” –, mas ainda assim talvez a demanda não seja tão grande a ponto de levar uma sociedade galáctica a deixar um sinal de sua conta de energia na assinatura de luz de sua galáxia natal para que astrônomos bisbilhoteiros o encontrem.
De toda forma, é sempre divertido ver os cientistas pensando fora da caixinha para responder a essas questões. No fundo, a discussão é sobre nós mesmos e nosso futuro. Pode a humanidade eventualmente se tornar a civilização galáctica da Via Láctea? Estamos condenados à auto-destruição? Ou chegamos tarde para a festa e outra civilização já tomou conta do nosso canto do Universo?

POR SALVADOR NOGUEIRA

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