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sexta-feira, 20 de março de 2015

ECLESIASTES E A VIDA APÓS A MORTE


O Testemunho de Eclesiastes  - O livro de Eclesiastes certamente que desperta uma grande curiosidade por parte dos leitores. As filosofias do “sábio”, filho de Davi (cf. Ec.1:1), sobre a vida pós-morte, apresenta uma grande recusa da possibilidade de existir vida em um estado intermediário antes da ressurreição. Do início ao fim de Eclesiastes, vemos que Salomão segue um princípio e segue essa linha em seus pensamentos. A lógica presente no livro é que não existe vida após a morte. A partir disso, é comum vermos o autor igualar a morte dos homens com a dos animais, por exemplo:

“Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (cf. Eclesiastes 3:19,20)

A razão pela qual os homens não terem vantagem nenhuma sobre os animais é que o destino dos dois é o mesmo após a morte. Nisso fica claro que Salomão não cria em uma natureza dualista do ser humano, com uma alma imortal que o diferenciasse dos animais. Isso implicaria em uma evidente vantagem dos homens sobre os animais! Aliás, já vimos que até aos animais foi designado o mesmo termo “nephesh hayyah” que foi designado aos seres humanos (cf. Gn.2:7; Gn.1:20).

No original hebraico a palavra aqui utilizada por Salomão (cf. 3:19) é ruach-espírito. Os seres humanos possuem o mesmo espírito-ruach dos animais e, por isso, não possuem nenhuma vantagem sobre eles. Isso nos mostra claramente que o nosso espírito-ruach não é uma “alma imortal” ou algo que garanta imortalidade levando consigo consciência e personalidade após a morte, pois, se assim fosse, o espírito-ruach dos humanos seria gritantemente diferenciado do espírito-ruach dos animais, e Salomão não os igualaria.

É evidente que em vários aspectos temos vantagens sobre eles; quando, porém, a questão é a natureza e destinos pós-morte, ambos são absolutamente igualados (cf. Ec.3:19):

ESPÍRITO DO HOMEM E DOS ANIMAIS
DESTINO DO HOMEM E DOS ANIMAIS
MATERIAL DO QUAL FORAM FEITOS
CONCLUSÃO
O mesmo (cf. 3:19)
O pó da terra (cf. 3:20)
Feitos do pó (cf. 3:20)
A vantagem de homens sobre animais no quesito de natureza e destinos pós-morte não é nenhuma (cf. 3:19)

Seguindo essa linha de raciocínio, Salomão diz também que o destino pós-morte dos tolos é o mesmo do sábios (cf. Ec.2:15), que o sábio morre do mesmo jeito que o tolo (cf. Ec.2:16), que o destino dos justos é o mesmo destino dos ímpios (cf. Ec.2:14), que o destino dos homens é o mesmo dos animais (cf. Ec.3:19), e que todos vão para o mesmo lugar após a morte (cf. Ec.3:20): “E, ainda que vivesse duas vezes mil anos e não gozasse o bem, não vão todos para um mesmo lugar?“ (cf. Ec.6:6); “Tudo sucede igualmente a todos; o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento” (Ec.9:2).

Salomão não diferenciava o destino dos justos e dos ímpios, tampouco com o dos animais, porque não cria em uma alma imortal deixando o corpo na morte. Ele não acreditava em uma alma imortal que era julgada no momento da morte com destinos diferentes, não existia uma recompensa logo após a morte: o destino de ambos era o mesmo.

“Assim que também isto é um grave mal que, justamente como veio, assim há de ir; e que proveito lhe vem de trabalhar para o vento... Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua porção” (cf. Eclesiastes 5:16,18).

Com a realidade da ressurreição dentre os mortos, é comum vermos os escritores do Novo Testamento proferirem que a recompensa será dada a cada um no momento da segunda vinda de Cristo (cf. Mt.16:27; Ap.22:14; 1Pe.5:4; 5; Lc.14:14; 2Tm.4:1), que é quando os mortos serão ressuscitados (cf. 1Co.15:22,23; 1Ts.4:15), para aí entrarem no gozo do Paraíso (cf. Jo.14:2-4; 1Ts.4:15). Salomão não acreditava na vida imediatamente após a morte e não tinha o foco centrado na ressurreição como os escritores do Novo Testamento tinham, razão pela qual, ao invés de escrever focado no momento da ressurreição (como faziam os escritores neotestamentários), escrevia focado naquele estágio imediatamente após a morte, antes da ressurreição, que é um estado sem vida.

Mais significativo ainda do que isso são as comparações que Salomão faz: “Se o homem gerar cem filhos, e viver muitos anos, e os dias dos seus anos forem muitos, e se a sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é melhor do que ele” (cf. Ec.6:3). Qualquer leitor honesto concluirá que, para Salomão, uma criança abortada é sinal de alguém que perdeu totalmente o dom da vida. Se ela tivesse automaticamente uma vida no Paraíso ou em algum lugar garantida entre os salvos, não valeria tal comparação que Salomão faz neste verso.

E ele continua: “Porquanto debalde veio, e em trevas se vai, e de trevas se cobre o seu nome. E ainda que nunca viu o sol, nem conheceu nada, mais descanso tem este do que aquele” (cf. Ec.6:5). A vantagem de um aborto sobre os vivos não baseava-se em possuir automaticamente uma vida eterna com Deus, mas sim decorrente do fato de que “nunca veria o sol”. Entender o pensamento de Salomão é de fundamental importância para compreendermos a revelação no livro de Daniel:

“E muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (cf. Daniel 12:2).

Outra comparação que Salomão faz é relatada em Eclesiastes 9:4, que diz que um cão vivo vale mais do que um leão morto: “Quem está entre os vivos tem esperança; até um cachorro vivo é melhor do que um leão morto!” (cf. Ec.9:4). É claro que se os mortos estivessem vivos gozando de bem-aventuranças então um leão morto valeria muito mais do que um cão vivo! Como Salomão não acreditava em vida após a morte, então mesmo um “leão”, se estivesse morto, valeria menos até mesmo em relação a um “cão” vivo!

Vale ressaltar também que, para Salomão, nós [os que estamos “debaixo do sol”] somos os únicos vivos. Não existem vivos em algum outro lugar. Quem está entre os vivos somos nós, que ainda temos esperança. O verso seguinte também elucida o anterior mostrando o porquê do cão vivo valer mais do que um leão morto: porque os mortos não estão cônscios de coisa alguma:

“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (cf. Eclesiastes 9:5,6)

Aqui Salomão apenas reitera aquela linha de raciocínio que ele já mantém desde o início de seu livro, desta vez de forma ainda mais direta: os mortos não sabem de coisa nenhuma (cf. Ec.9:5), tem a memória entregue ao esquecimento (cf. Ec.9:5), e sentimentos de amor, ódio e inveja já pereceram (cf. Ec.9:6). Como os imortalistas respondem a evidência de Eclesiastes? A maioria afirma que tudo isso se limita ao que acontece “debaixo do sol”. A expressão “debaixo do sol” se refere realmente ao nosso mundo; porém, Salomão a usou porque na mente dele não há a mínima ideia de que os mortos cheguem a outro lugar! Os hebreus não pensavam como os gregos. De fato, Salomão fala muito das coisas que acontecem “debaixo do sol”, como em Eclesiastes 9:6:

“Amor, ódio e inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (v.6)

Aqui ele diz que as coisas que acontecem debaixo do sol (tais como amor, ódio e inveja) já não são possíveis para os mortos, que não sabem de “coisa nenhuma” (v.5). Ele não está dizendo que os mortos não desfrutam de amor, ódio e inveja debaixo do sol, mas sim que os sentimentos de amor, ódio e inveja não são possíveis aos que já morreram, mas apenas aos que estão debaixo do sol, isto é, aos vivos. As interpretações tendenciosas dos imortalistas em suas tentativas de negarem o óbvio do texto bíblico se mostram completamente fracassadas quando se deparam com uma interpretação de texto simples e ao mesmo tempo precisa.

Se, portanto, o sentimento de amor só está presente entre os vivos, ou seja, entre aqueles que estão debaixo do sol, então só nos restam duas alternativas: ou os mortos estão realmente inconscientes, isto é, sem vida; ou, então, eles estão vivos em algum lugar e não tem amor por ninguém! Qual é o mais provável? Que o sentimento de amor já não exista entre os mortos ou que ele não exista exatamente porque são os próprios mortos que não estão com vida?

Além disso, é extremamente impreciso dizer que Salomão só se preocupava com os vivos, pois ele fala também com relação à vida no além, fala do estado dos mortos:

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde vaisnão há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma (cf. Eclesiastes 9:10)

Fica claro que também no além, na “habitação dos mortos”, não existe qualquer atividade ou sabedoria. O original hebraico traz neste verso a palavra “Sheol”, transliterado para Hades no grego do NT. Para os defensores da imortalidade, este lugar é referência a “habitação consciente dos espíritos”. Salomão liquida com isso usando as palavras hebraicas ma`aseh', cheshbown chokmah, que de acordo com a Concordância de Strong, tais palavras transliteradas demonstram que os mortos:

(1) Não tem nenhum conhecimento, obras ou atividade [ma`aseh][1]
(2) Não tem inteligência e nem dispositivo de razão [cheshbown][2]
(3) Não tem sabedoria, habilidade e nem inteligência [chokmah][3]

Evidentemente um estado de completa inconsciência.

O Espírito Santo não “inspirou errado” o livro de Eclesiastes, e tentar negar todas as evidências deste livro como prova contra a imortalidade da alma é no mínimo estar com a mente totalmente fechada para o conteúdo geral do livro, é negar todo um raciocínio que o autor mantém desde o princípio de seu livro. Fica claro, diante de todas as evidências, passagens bíblicas, bem como a linha de raciocínio que Salomão segue desde o seu início, que ele não cria de maneira nenhuma em qualquer “alma imortal” que sai do corpo no instante da morte. A visão de Salomão não é única, mas reflete uma regra do AT: não existe a imortalidade da alma.

Outro argumento bastante utilizado por alguma parte dos defensores da imortalidade intrínseca com relação ao livro de Eclesiastes é que ele não acreditava que pudesse existir vida em qualquer era futura. Sendo assim, o argumento deles é que, se nos basearmos no livro de Eclesiastes como evidente prova contra o estado intermediário, teríamos que negar também qualquer vida futura – até mesmo por meio de uma ressurreição – porque (segundo eles) Salomão não acreditava em nenhum tipo de vida para nenhuma era.

Esse argumento falha em dois pontos principais. Em primeiro lugar, porque seria o mesmo que negar que o Espírito Santo dirigia Salomão em seus ensinamentos. Se o Espírito Santo dirigia os ensinamentos dele e ele conta um “engano”, seria o mesmo que afirmássemos que o Espírito Santo “inspirou errado” e escreveu mentiras e enganações na Bíblia Sagrada, o que é um ultraje contra a divindade. Se, contudo, tomarmos o outro ponto (de que Salomão não estava inspirado), então deveríamos também negar a Bíblia como regra de fé, pois ela não seria considerada “segura” em seus ensinamentos.

Afinal, se Salomão pôde escrever bobagens e ensinar doutrinas erradas e antibíblicas aos seus leitores – e está na Bíblia – quem pode nos garantir que não existam outros vários erros doutrinários presentes nos demais livros que também fazem parte do cânon bíblico? A única maneira de salvaguardar a inspiração das Escrituras e a infalibilidade (segurança) doutrinária dela é admitindo também a inspiração de Eclesiastes no mesmo nível dos demais livros.

Ademais, se Salomão errou ao escrever isso, deveríamos também negar que toda a Escritura (incluindo Eclesiastes, é claro) seja divinamente inspirada, e deste modo estaríamos chamando o apostolo Paulo de mentiroso, pois ele afirmou que toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (cf. 2Tm.3:16), e não apenas parte dela.  Aqui vemos que a Escritura é útil não somente para aperfeiçoar o caráter das pessoas (como alguns pensam), mas também como “ensino”, isto é, em questões doutrinárias.

Em segundo lugar, é um completo equívoco dizer que Salomão desacreditava completamente que os mortos ressuscitariam um dia. Tão certo como ele desacreditava completamente em que os atuais mortos já estivessem vivos em sua época em algum tipo de “estado intermediário” (cf. Ec.9:5,6; 9:10), também é certo que ele sabia muito bem que Deus haveria de julgar a cada um pelo que fez e lhes conceder uma vida eterna (aos justos). De fato, Salomão fala da "eternidade" no coração humano (cf. Ec.3:11) e de imortalidade quando ele declara que o homem um dia irá "à casa eterna" (cf. 12:5).

Ele enfatiza também que devemos temer ao Senhor porque num certo dia "de todas estas coisas Deus nos pedirá contas" (cf. 11:9). A realidade do dia do Juízo quando estaremos diante de Deus é reiterada por ele no capítulo seguinte, quando ele conclui o livro dizendo que “Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal” (cf. Ec.12:14). Isso é claramente uma menção ao juízo que acontece na segunda vinda de Cristo. Portanto, a partir de Eclesiastes, podemos perceber o que é abaixo relatado:

VIDA TERRENA
ESTADO INTERMEDIÁRIO
RESSURREIÇÃO (JUÍZO) PARA A VIDA ETERNA
A breve vida em que passamos “debaixo do sol”
Um estado em que os mortos se encontram atualmente e que Salomão define como “sem inteligência, razão, conhecimento ou sabedoria” (cf. 9:10), e que “os mortos não estão cônscios de coisa alguma”(cf. 9:5), sendo que os sentimentos como “amor, ódio e inveja já pereceram” (cf. 9:6)
Um estado de vida em que Salomão acentua que estaremos em “moradas eternas” (cf. 12:5) e que certamente passaremos pelo juízo de Deus que nos julgará por tudo o que fizermos (cf. 11:9; 12:14)

Outra prova clara de que o livro de Eclesiastes não contradiz o restante dos ensinamentos bíblicos neotestamentários é o fato de que ele próprio escrevia sabendo que o espírito retornava para Deus por ocasião da morte: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu” (cf. Ec.12:7). Este ensino não é contrário ao do NT, pelo contrário, corresponde exatamente ao ensino neotestamentário: “Pai ao Senhor entrego o meu espírito. E com estas palavras morreu” (cf. Lc.23:46). Note que o que Salomão declara em Eclesiastes é exatamente aquilo que é confirmado pelo NT. Salomão, que sabia muito bem que o espírito subia para Deus, afirmava também categoricamente, neste mesmo livro, que os mortos não estão conscientes de coisa alguma (cf. Ec.9:4,5; 9:10) e que o homem possui o mesmo espírito-ruach dos animais, tendo o mesmo destino que eles tem ao morrerem (cf. Ec.3:19).

A palavra usada no original hebraico de Eclesiastes 9:10 é “Sheol”, que para os imortalistas é a morada dos espíritos, que se localiza nas regiões inferiores desta terra (cf. Ef.4:9; Mt.12:40; Mt.11:23). Tanto isso não é verdade que Salomão afirma que o espírito [de todos] sobe para Deus (cf. Ec.12:7), e sabia que neste local não existia nenhum tipo de sabedoria ou conhecimento (cf. Ec.9:10), que os mortos não sabiam de nada (cf. Ec.9:5), e iam todos [justos ou ímpios] para o mesmo lugar após a morte (cf. Ec.3:20).

Em outras palavras, Salomão sabia que o espírito subia para Deus, mas também sabia que não tinha parte alguma com alguma “entidade viva e consciente” que nós levamos conosco após a morte. Vemos claramente que Salomão não contraria os ensinos neotestamentários, ao contrário, concorda com eles:

ECLESIASTES
NOVO TESTAMENTO
“E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volta a Deus, que o deu”(cf. Ec.12:7)
“Pai ao Senhor entrego o meu espírito. E com estas palavras morreu” (cf. Lc.23:46)
RESULTADO
RESULTADO
Mesmo assim os mortos não sabem de nada (cf. 9:5) e não tem amor, ódio ou inveja que já não existem para eles (cf. 9:6), que não tem inteligência, razão, conhecimento ou sabedoria (cf. 9:10)
Mesmo assim Jesus não havia subido ao Pai mesmo três dias depois de ter sido ressuscitado (cf. Jo.20:17)

Sendo assim, Eclesiastes não representa nenhuma contradição com o restante da Bíblia e podemos chegar à fácil conclusão de que o Espírito Santo não inspirou errado nenhum escritor bíblico. Tal testemunho de Eclesiastes reflete todo o pensamento do Antigo e do Novo Testamento, como veremos mais adiante. Tudo o que Salomão fez, e que comprovamos até aqui, é negar absolutamente qualquer imortalidade da alma em um estado intermediário, pois ele não havia sido influenciado pela filosofia grega de dualismo que viria mais tarde.

Embora seja verdade que ele ressaltasse muito mais o período sem vida entre a morte e a ressurreição, também é fato que ele cria que um dia viria o juízo (cf. Ec. 11:9; 12:14) e uma vida eterna (cf. Ec.12:5). Portanto, ele pode ser usado como prova de alguém que cria em vida futura após o juízo, mas não cria na imortalidade da alma, pois não aceitava um estado já consciente dos mortos atuais em algum estado intermediário entre a morte e a ressurreição.

O “espírito” que subia para Deus (cf. Ec.12:7) não era uma alma imortal, mas a própria vida humana de todos os homens, justos ou pecadores. Por isso, alegar em cima desta passagem a “imortalidade da alma” significa negar todo o restante do livro de Eclesiastes que explicitamente nega isso, e também inferir que os ímpios assim como os justos estarão com Deus após a morte, quando apenas os justos deveriam estar com Ele. Afinal, segundo Salomão é o espírito de todos os homens que volta a Deus após a morte, e não apenas o dos justos ou daqueles que merecem o Céu (cf. Ec.12:7).

Sendo assim, é correto afirmar que Salomão não via o espírito como sendo uma alma imortal ou alguma entidade incorpórea e consciente que leve consigo personalidade e racionalidade após a morte, motivo pelo qual ele declara que os animais possuem exatamente o mesmo espírito-ruach possuído pelos seres humanos (cf. Ec.3:19) e, por conta do fato de que o espírito presente em ambos serem o mesmo, o destino de ambos após a morte também seria o mesmo: o pó da terra (cf. Ec.3:20).

O que nos distingue dos animais no que tange à vida após a morte, tanto para Salomão como também para os demais escritores bíblicos, não é que nós sejamos possuidores de uma alma-nephesh e os animais não, ou que nós sejamos detentores de espírito-ruach e os animais não, mas sim que nós ressuscitaremos do pó, e os animais não. Por isso ele diz em Eclesiastes 3:21 que o nosso espírito volta para Deus (que soprará novamente em nós pela ressurreição, tornando-nos novamente “almas viventes”), mas o dos animais volta à terra (de onde não tem mais volta).

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