De longe o avistei, logo ao virar à esquerda, numa das esquinas do Centro de Maceió. Enquanto seguia em sua direção, refazia em minha cabeça o roteiro da cena que sucederia nos instantes seguintes. Agachei-me ao seu lado, toquei no seu ombro e disse: “Edmilson”, que parou imediatamente de tocar o seu pandeiro, “sou jornalista e gostaria de escrever a sua história”. Ele, mais conhecido como Ceguinho do Centro, aceitou. Mas não sem ressalvas. Pediu para que a entrevista acontecesse onde mora, no bairro do Benedito Bentes II. “Porque aqui”, alegou, “o pessoal fica de olho”.
Um dia se passou após meu primeiro contato com Edmilson naquela manhã de sol e mormaço. Era quarta-feira, por volta das 20h, quando bati à porta da sua casa. Agora sentado, confortavelmente, no velho sofá verde da pequena sala, frente a frente com ele e com nossos rostos nivelados, decifrei qual desafio estava posto. A cegueira a ser subvertida era a minha. Para enxergar Edmilson, reconheci que, ali, o cego era eu.
Engana-se quem acha que o Ceguinho do Centro não vê o mundo. A única diferença entre Edmilson e a maioria das pessoas reside na forma como ele traduz as coisas ao seu redor. Compreender sua perspectiva foi o mistério que me propus a desvendar
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