Utilizando poderosos instrumentos apontados para o céu, os astrônomos já conseguiram descobrir centenas planetas extrasolares, mas nenhum deles parece ser capaz de suportar a vida como na Terra.
Mas o que diriam os extraterrestres se estivessem procurando vida fora de seus planetas? Observando com telescópios ligeiramente maiores e mais poderosos que os nossos, poderiam eles estudar a Terra e deduzir que aqui é um planeta com vida?
Esse é o centro da questão de um estudo elaborado por astrônomos ligados à Universidade de Flórida e publicado há alguns anos na edição on-line do periódico Astrophysical Journal.
A resposta para a pergunta, segundo seus autores, é "sim". Com um telescópio maior que o Hubble apontado diretamente para nosso Sol, "observadores hipotéticos" poderiam medir o período de rotação de 24 horas da Terra, especular sobre a movimentação dos oceanos e as probabilidades de vida.
"Eles veriam a Terra como um único pixel e não como uma fotografia", disse Eric Ford, professor de astronomia da Universidade da Flórida e um dos cinco autores do estudo. "Mas isso pode ser mais que suficiente para identificar nosso planeta como tendo nuvens e oceanos de água líquida", explicou.
Essa pesquisa pode até parecer excêntrica, mas tem um objetivo muito sério: fornecer referências aos astrônomos que buscam planetas similares à Terra fora do sistema solar. "Esse é um trabalho que deverá se intensificar cada vez mais nas próximas décadas, graças à maior potência e disponibilidade dos telescópios", confirmou Enric Palle, outro participante do estudo e ligado ao Instituto de Astrofísica de Canárias.
Desafio
Para os observadores humanos ou extraterrestres procurar por planetas habitáveis é um grande desafio. O planeta não pode estar muito perto ou muito longe da estrela, o que poderia tornar sua superfície quente ou fria demais. A distância ideal é chamada de "Zona Habitável". Além disso, o candidato a abrigar vida precisaria ter uma atmosfera capaz de prover diversos tipos de proteção, desde radiações danosas a meteoritos que vêm do espaço.
Em sua maioria, os planetas encontrados fora do sistema solar são muito maiores que a Terra, principalmente gigantes gasosos similares a Júpiter, um lugar completamente inabitável, com nenhuma superfície sólida e atmosfera composta na maior parte por hidrogênio e hélio.
Para ajudar no trabalho das observações, os astrônomos estão começando a planejar os futuros telescópios, capazes de detectar diretamente os planetas que tenham tamanhos similares à Terra e que estejam dentro da zona habitável. O maior desafio será usar a própria luz refletida pelo planeta e confirmar se sua atmosfera e superfície são similares às da Terra.
Ford e seus colegas acreditam que para vencer esse desafio é necessário saber como a Terra seria vista se observada por extraterrestres hipotéticos.
Observando a Terra
Os astrônomos reconhecem que mesmo usando telescópios poderosos, seria necessário observar a Terra por diversas semanas a fim de captar luz suficiente para identificar a química da atmosfera. Durante essas observações o brilho da Terra sofreria alterações, primeiramente devido à movimentação das nuvens dentro e fora do campo visual.
Se os astrônomos-ETs tentarem medir o período de rotação da Terra, poderiam então saber quando determinada área do planeta estaria iluminada. O problema é que eles não estariam seguros quanto à mudança dos padrões das nuvens, que se altera de forma caótica. Isso praticamente tornaria impossível determinar o período de rotação da Terra diretamente.
Baseado em dados coletados por satélites de sensoriamento remoto, Ford e sua equipe criaram um modelo de brilho da Terra, revelando que em escala global a cobertura de nuvens do nosso planeta é muito consistente, com as florestas tropicais quase sempre nubladas, as regiões áridas limpas, etc. Como resultado, os astrônomos extraterrestres que estivessem observando a Terra por diversos meses iriam notar a repetição dos padrões. Segundo Ford, o estudo dessa repetição por um longo tempo permitiria calcular o período de rotação de 24 horas.
Calculado o período de rotação, os astrônomos extraterrestres poderiam inferir que as anomalias de brilho seriam causadas por mudanças no padrão meteorológico, mais especificamente por nuvens. Apesar de que diversos planetas são muito nebulosos, a repetida presença ou ausência de nuvens sempre indica alguma atividade meteorológica. Na Terra, essa variabilidade resulta da transformação da água em vapor e novamente em água. Dessa forma, possíveis variações similares que forem detectadas em outros planetas poderiam indicar a presença de água líquida.
"Vênus está sempre coberto de nuvens, Seu brilho nunca muda. Marte praticamente não tem nuvens. A Terra, no entanto, apresenta uma enorme quantidade de variações", diz Ford. O cientista também explica que as mudanças nos padrões de brilho também podem indicar a presença de continentes e massas de água.
A pesquisa também deverá ajudar na construção de novos telescópios espaciais, já que norteará na elaboração das características requeridas para estudar a superfície de planetas similares à Terra. Segundo Ford, o estudo mais aprofundado de planetas dentro da zona habitável irá requerer a construção de um telescópio pelo menos duas vezes maior que o Hubble.
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