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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Polícia impõe disciplina militar em escolas públicas de Goiás


  • Alunos de colégios administrados pela PM não podem usar gírias ou usar batom e devem bater continência e marchar Motivada pela violência nas unidades de ensino, tutela da polícia é elogiada por pais de estudantes, mas criticada por especialistas


  • VALPARAÍSO. Um grupo de adolescentes se perfila em formação militar, enquanto uma soldado armada os passa em revista. Nenhum deles masca chicletes. As garotas não usam batons ou esmaltes chamativos. Nas conversas não se toleram gírias. Todos são obrigados a cantar o Hino Nacional na chegada, a caminhar marchando e a bater continência diante do diretor. Não estamos num quartel, mas num dos dez colégios da rede estadual de Goiás cuja administração começou a ser transferida para a Polícia Militar desde janeiro, numa medida desenhada para amainar os repetidos casos de violência ocorridos numa região desassistida a apenas 40 quilômetros do Distrito Federal.
    Duas das escolas sob o novo regime ficam nas cidades de Valparaíso e Novo Gama. Ali, a maioria dos professores é a mesma do ano passado, e a metodologia pedagógica continua sob responsabilidade da Secretaria estadual de Educação. Mas o diretor de cada unidade é um oficial da PM, assim como a equipe encarregada de manter a “ordem”. Todos fardados e com armas na cintura.
    A escolha dos colégios não foi em vão. O entorno do DF convive com problemas crônicos de violência. Desde 2011, a Força Nacional de Segurança Pública reforça o policiamento. Em Valparaíso, o Colégio Fernando Pessoa já apareceu no noticiário policial depois que um ex-aluno foi assassinado a tiros ali. Em outra ocasião, uma professora sofreu um sequestro relâmpago ao sair do prédio.

    'Operação limpeza' para conquistar comunidade

    A vice-diretora do Fernando Pessoa, Glaucia Ermínia dos Santos, foi mantida no cargo e afirma que o cenário “é outro” desde a chegada da PM:
    — A questão disciplinar mudou gritantemente. Tínhamos problemas de tráfico de drogas e prostituição. Professores tinham medo dos alunos.
    No Colégio José de Alencar, no Novo Gama, relatos semelhantes.
    — Era tudo bagunçado. Tinha gente usando drogas nos banheiros. Agora até o bairro está mais seguro. O melhor é sair e ver uma viatura na rua — diz a estudante Erisvânia Chagas, de 15 anos.
    Em ambas as unidades, um mutirão chamado de “operação limpeza” foi posto em prática com o evidente intuito de conquistar a comunidade. As paredes foram pintadas; as pichações, apagadas. Os próprios alunos se tornaram responsáveis por sessões de vistoria nos banheiros e pela checagem da sala: se tudo não estiver arrumado, ninguém sai. Até a lista de ausentes à aula é compilada pelos estudantes, no caso um deles, o chefe da turma. Se um professor falta, nenhuma turma sai mais cedo.
    O código de conduta segue os moldes do que vigora nos colégios da Polícia Militar de Goiás (CPMG). Até os cortes de cabelo devem obedecer a certos padrões. Contato físico “que denote envolvimento de cunho amoroso” é proibido.
    — No início eu me revoltei, odiei. Hoje adoro, não troco por nada — sustenta Luísa Roriz, de 16 anos, que estuda em Valparaíso.
    O apoio entusiasmado pode esconder temor a repressão. O código classifica como transgressão disciplinar grave “denegrir o nome do CPMG ou de qualquer de seus membros”. Quem conversa com alunos percebe o receio que têm de fazer críticas. Estudantes que davam entrevista ao GLOBO foram interpeladas por uma policial da equipe disciplinar no momento em que uma delas reclamava da exigência de ficar em pé durante solenidades.
    — Não há dúvida de que a escola, para funcionar bem, deve ter normas claras e ser exigente. Mas isso nada tem a ver com militarização — critica Wanderson Ferreira Alves, professor de políticas educacionais na Universidade Federal de Goiás (UFG). — Experiências exitosas no mundo fizeram o caminho inverso, aproximando a escola da comunidade e horizontalizando relações hierárquicas.
    Frederico Marinho, pesquisador de segurança pública na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chama a transferência de escolas para a polícia de “maquiagem ideológica”, “tentativa de doutrinação dos alunos” e “aberração”:
    — Não tem nada a ver com segurança.
    Diretor do Colégio Fernando Pessoa, o capitão Francisco dos Santos Silva defende o modelo adotado pelo governo de Marconi Perillo (PSDB). Ele é formado em Pedagogia e foi professor da rede estadual antes de se tornar policial. E diz que um dos objetivos é melhorar a nota da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), método avaliador do Ministério da Educação.
    — O caminho é simples: a disciplina consciente. A gente faz (o aluno) pegar o gosto (pelo estudo). No sábado tem grupo de estudo na biblioteca. Em breve, vamos começar um cursinho para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) — afirma. — Gírias como “ô, véio” não podem (ser empregadas). Aqui a gente só usa a norma culta.
    Diferentemente do que ocorre na rede pública, os colégios da PM goiana (aos quais se somaram os dois de Valparaíso e Novo Gama) cobram uma contribuição “voluntária” de R$ 40 a R$ 70 mensais. O dinheiro é administrado pela Associação de Pais da unidade e, segundo a PM, destinado a melhorias na infraestrutura, em equipamentos e na contratação de professores de reforço.
    O Ministério Público em Valparaíso, contudo, acionou a Justiça no início do ano, devido a informações de que o pagamento da taxa seria compulsório, assim como a exigência de uso de uniforme, um kit de R$ 400. Uma liminar da Justiça garantiu o caráter espontâneo da taxa.
    O comandante de Ensino da PM de Goiás, coronel Júlio César Mota, sustenta que houve um mal entendido e que a contribuição é voluntária:
    — Quando o pai percebe que a contribuição está transformando a escola, a adesão é muito maior. Chega a 100% em algumas unidades.
    O pedreiro Cleuber Bispo da Silva, de 44 anos, diz que faz questão de pagar.
    — Meu menino mudou de comportamento. Passou até a arrumar mais o quarto — descreve o pedreiro, cujo filho, de 11 anos, está no 6º ano do ensino fundamental do Colégio Fernando Pessoa.
    O coordenador geral da rede Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, avalia como “um desastre” o processo que está sendo registrado na rede estadual de Goiás:
    — Trabalhei em escolas públicas nas regiões mais violentas de São Paulo e acompanhava as rondas que a polícia fazia. Elas já eram temerárias... Imagine uma administração da PM! A polícia não faz bem nem seu trabalho de segurança pública, que dirá educação. Essa medida reforça o sentimento de desigualdade entre as escolas. É um instrumento antirrrepublicano. Precisamos combater a desigualdade, não institucionalizá-la.
    Outro a condenar a medida é o ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro e antropólogo Paulo Storani.
    — É a certificação do fracasso de um processo pedagógico no Brasil. É aquele pensamento: “ah, não temos como resolver o problema? Então chama a polícia”. Estão dando o gerenciamento da escola a um órgão que não tem essa função — raciocina. — A população tinha uma expectativa, é o desespero de querer qualquer coisa para melhorar uma situação. Pode melhorar em curto prazo, porque cria disciplina, mas não resolve nada a longo prazo.


    DEMETRIO WEBER (EMAIL)

    Com 51% dos votos válidos, Lane Cabudo é eleita prefeita de Palestina - Alagoas

    Em pleito apertado, Dino César perdeu por 74 votos de diferença. Segundo TRE-AL, 3.217 eleitores foram às urnas neste domingo (6).


    Com 1.598 votos, Eliane Silva Lisboa, a Lane Cabudo (PT), da coligação “A Esperança se Renova”, foi eleita a nova prefeita do município de Palestina, em eleição suplementar que aconteceu neste domingo (6). Dino César (PMDB), teve um total de 1.524 votos, totalizando 74 votos de diferença entre os dois.
    Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, 3.217 eleitores do município compareceram às duas seções de votação da cidade. A apuração foi realizada no cartório eleitoral de Pão de Açúcar, também no Sertão de Alagoas.
    Ainda segundo o TRE, a eleição teve 20 votos em branco e 75 votos nulos. A Polícia Militar e o TRE não registraram nenhuma ocorrência durante a votação, que ocorreu de forma tranquila. O pleito anterior, realizado em 2012, que elegeu José Alberto Barbosa (PTdoB), foi impugnado pela Justiça eleitoral por irregularidades no registro de candidatura.
    De acordo com informações do cartório eleitoral da 11ª Zona, Palestina tem cinco mil habitantes, com 3.664 eleitores aptos e contou com 11 seções eleitorais, que se concentraram em duas escolas públicas localizadas na área urbana daquele município.
    Pleito anulado
    As eleições realizadas em outubro de 2012, que elegeram José Alberto Barbosa como prefeito de Palestina, foram impugnadas pelo MPE em julho de 2013. A alegação dos magistrados foi a de que Barbosa não havia registrado um novo candidato a vice em tempo hábil. A necessidade do registro se deu após a prisão do antigo candidato, Gedilson Costa da Silva (PR), conhecido como “Gel", dois dias antes da eleição, por ter sido flagrado com um carro repleto de santinhos e R$ 8 mil, em dinheiro trocado. Além disso, pesava contra ele a acusação do MPE de ter pago R$ 500 em troca do voto de um eleitor. Gel, então, renunciou à candidatura. Uma nova candidata foi apontada, Kathiane Janine Medeiros (PMDB), mas o pedido, que não foi feito com até 24 horas de antecedência, como manda a legislação, foi indeferido pela Justiça. Na época, o juiz Durval de Mendonça Júnior, titular da comarca de Pão de Açúcar, e que também reponde por Palestina, determinou que novas eleições fossem realizadas na cidade. Nesse período, quem assumiu o comando do Executivo municipal foi o presidente da Câmara de Vereadores, Geraldo Joaquim de Carvalho. A nova votação, adiada por conta de um recurso movido por Kathiane, havia sido marcada para o dia 1º de dezembro de 2013, mas foi suspensa dois dias antes. Após julgamento do processo, o novo pleito foi remarcado para este domingo.

    fonte: Natália Souza Do G1 AL